terça-feira, 31 de março de 2015

Orégano aplaca o desejo por sal

Ao acrescentar a erva no preparo de pães, as versões mais salgadas se tornam as menos preferidas
 
orégano aplaca o desejo por sal
 
Quantas vezes você já escutou que trocar o sal por ervas ajuda a evitar o aumento da pressão arterial? Pois em um estudo conduzido na Universidade de São Paulo a nutricionista Patrícia Villela confirmou que essa manobra realmente dá certo. Ela recrutou 120 voluntários jovens e idodos, uns com hipertensão e outros com a pressão normal. Em um primeiro momento, a especialista ofereceu a esse pessoal três tipos de pão francês – a diferença entre eles era o teor de sódio. Em geral, quem já tinha a doença preferiu a opção mais salgada do trio. Mas, quando Patrícia incluiu orégano na receita do alimento, a história mudou. Ao provar os produtos feitos com a especiaria, os participantes apontaram o pão com menos sódio como o melhor de todos. “Os voluntários acharam a versão com orégano mais saborosa”, conta Patrícia. Ainda de acordo com ela, qualquer diminuição no uso de sal, por menor que seja, já é vantajosa. “Afinal, recomenda-se o consumo de até 5 gramas, e o brasileiro utiliza cerca de 12”, ressalta.

Outros temperos que dão sabor sem elevar a pressão

Salsinha

De poder diurético, ela é superversátil. Experimente com sopas, saladas, carnes, molhos, arroz e por aí vai.

Coentro

Conhecido por ser um ótimo digestivo, cai muito bem na preparação de peixes.

Louro

Inclua-o no feijão sem pestanejar. O louro ajuda a combater a formação de gases e a sensação de peso no estômago.

Manjericão

Originário da Índia, ele é perfeito para compor os molhos das massas.

Alecrim

Dá para utilizar tanto os ramos como suas folhas nas receitas. Combina com diversos tipos de carne.
 

sexta-feira, 27 de março de 2015

Cuidado com os analgésicos

Uma solução rápida para a dor é o grande atrativo desses remédios. Mas o abuso deles, cada vez mais comum, traz repercussões sérias. O que fazer para evitá-las
 
 analgésicos
 
Eles são vendidos sem receita, mas estão longe de ser inofensivos. Um comprimido contra dor e febre engrossa as filas para transplante de fígado. Outro da mesma classe eleva em 40% a probabilidade de panes cardíacas em gente com predisposição a elas. E um terceiro pode gerar quadros de anemia. Não, não estamos falando de novos fármacos, cujos efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos. Os responsáveis por esses transtornos são, respectivamente, paracetamol, diclofenaco e ácido acetilsalicílico, conhecidos analgésicos e anti-inflamatórios.
Nos Estados Unidos, a cada ano ocorrem 16,5 mil mortes por uso crônico de remédios contra dor e inflamação. O paracetamol, por exemplo, é a causa de pelo menos 80 mil internações naquele país. E mais: um estudo da Universidade de Edimburgo, na Escócia, revela que até pequenas doses, se tomadas a torto e a direito, são capazes de prejudicar o fígado pra valer.
O diclofenaco, por sua vez, recentemente foi associado com um maior índice de mortes por infarto. Até o ácido acetilsalicílico, introduzido nas farmácias em 1899, não está acima de qualquer suspeita. Tomá-lo sem critério pode levar a hemorragias no intestino e, assim, à anemia.

Ficou claro que não dá para ficar engolindo uma drágea atrás da outra sem consultar um especialista, né?

Use o bom senso

Atenção: não precisamos nos entupir de analgésicos para extrapolar o limite recomendado. Em média, tomar mais do que três cápsulas ao dia, por uma semana, abre as portas para a gastrite em quem tem predisposição. Especificamente sobre o paracetamol, colocar um comprimido de 750 miligramas para dentro do corpo de quatro em quatro horas já sobrecarregaria o fígado.
Quando empregados com parcimônia, os analgésicos são, sim, aliados do bem-estar. Não é o caso de ficar um tempão sentindo dor, porém, se você lançou mão de comprimidos por dois ou três dias e o incômodo não cedeu ou até cede, mas retorna, é hora de procurar um médico.
Inclusive porque a utilização prolongada faz com que os princípios ativos parem de funcionar ou, acredite se quiser, promovem até mais dor. Isso acontece porque pessoas que tomam muito remédio reduzem a capacidade de suportar incômodos e podem começar a sentir desconfortos até sem uma razão aparente.

Procure alternativas

Aliviar a dor com remédio só quando não houver outra saída mesmo. Acupuntura, por exemplo, funciona bem contra problemas musculares e articulares e cefaleias tensionais. E até a alimentação tem seu valor aí: comer fontes de ômega-3, como salmão ou atum, fomenta a produção de substâncias que ajudam a reparar e desinflamar os tecidos.

Sem exageros nos exercícios físicos

A prática de esportes, apesar de saudável, comumente culmina em desconfortos – em especial se o ritmo é muito desgastante. Para não ter que recorrer sempre aos analgésicos, evite intensidades altíssimas e  invista nos exercícios de reforço muscular. Essa estratégia deixa o corpo resistente aos trancos e aos movimentos bruscos que ocorrem durante a realização de várias modalidades.
 

sexta-feira, 20 de março de 2015

Conheça 10 plantas que curam

Entrevista com alguns dos mais renomados pesquisadores brasileiros descobriu as propriedades da nossa flora sem correr riscos.

Conheça 10 plantas que curam 

"A flora nacional concentra a maior biodiversidade do mundo. São 55 mil espécies catalogadas, o correspondente a 20% do total distribuído pelo planeta", dispara o médico Roberto Boorhem, presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia. Esse tesouro natural é uma oportunidade de avançar na descoberta de novos tratamentos médicos, desde que utilizado com critério científico.
Antes de tudo, apague a crença de que tudo que é natural não faz mal. "As plantas necessitam de recursos químicos para se defender, como alguns alcaloides, que, por serem amargos e tóxicos, afastam predadores, ou óleos essenciais, que atraem aves para a polinização", exemplifica a farmacêutica Ivana Suffredini, da Universidade Paulista, na capital. "Assim como algumas dessas substâncias podem atuar positivamente no organismo humano, outras provocam sérios danos", alerta.
Outra confusão que precisa ser desfeita é usar os termos plantas medicinais e fitoterápicos como sinônimos. "Fitoterápicos são remédios, que passam por uma rigorosa avaliação de segurança e eficácia em seres humanos, com uma concentração de ativos padronizada, o que nem sempre ocorre com as folhas para o preparo de chás", diferencia a geriatra especializada em fitomedicina Rita Ferrari, de São Paulo.
Não quer dizer que a população tenha de abandonar as infusões, respeitando-se algumas medidas de cautela. Com o respaldo de investigações sérias e de anos de uso popular registrados, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma lista de 66 espécies eficazes, com suas respectivas indicações de uso. As plantas mencionadas nesta reportagem aparecem nessa relação e são rotuladas como drogas vegetais. "Esses chás devem ser consumidos somente para alívio de sintomas agudos, sem ultrapassar 30 dias. A utilização prolongada exige o acompanhamento de um médico ou nutricionista", esclarece Boorhem.

Conheça cada uma dessas plantas poderosas:

Conheça 10 plantas que curam
Fotos: Dercílio

1. Passiflora:
famosa por seu poder calmante, a folha do maracujá entra na fórmula de fitoterápicos e é receitada por especialistas no tratamento de ansiedade.
2. Aroeira-do-sertão: na Universidade Federal do Ceará, a farmacêutica Mary Anne Bandeira elegeu essa espécie para desenvolver uma fórmula fitoterápica contra infecções ginecológicas.
3. Valeriana: matéria-prima de fitomedicamentos, essa espécie aumentaria a disponibilidade de certos neurotransmissores, aplacando a ansiedade.
4. Boldo-do-chile: a espécie não é aquela com textura aveludada, que os brasileiros costumam colher no jardim - e sim outra, proveniente do Chile, que de fato ajuda na digestão, como comprovou o levantamento realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista. "A boldina, principal componente do vegetal, estimula a secreção da bile, substância produzida pelo fígado que atua na digestão de gorduras", confirma o biomédico João Ernesto de Carvalho, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas e Biológicas da Unicamp.
5. Carqueja: "assim como o boldo, a carqueja favorece a produção da bile, facilitando a digestão", conta Carvalho. Não para por aí. Há registros de redução das taxas de açúcar no sangue, além de propriedades antiúlcera e anti-inflamatórias, que auxiliariam no tratamento de artrites.
Conheça 10 plantas que curam
Fotos: Dercílio

6. Alecrim:
atua no combate à depressão. No cérebro, a planta inibe a degradação dos neurotransmissores serotonina, dopamina e noradrenalina, responsáveis pela sensação de bem-estar.
7. Guaco: aclamadas por aliviar sintomas de bronquite, asma e tosse, as folhas de guaco têm efeito paliativo para casos agudos de doenças respiratórias. 
8. Espinheira-santa: há séculos empregada pela população em forma de chás, a planta atenuaria azia e mal-estar estomacal.
9. Erva-baleeira: seu óleo essencial é matéria-prima de um consagrado fitomedicamento fabricado pelo laboratório Aché: um creme anti-inflamatório de uso tópíco, indicado para aliviar dores musculoesqueléticas e tendinites.
10. Barbatimão: típico do cerrado, concentra substâncias de grande potencial cicatrizante. Por isso, tornou-se alvo de interesse do laboratório Apsen, que, após 17 anos de pesquisas, lançou uma pomada à base de seu extrato.

sexta-feira, 13 de março de 2015

A dieta que detona pedras

Quem diria que as escolhas alimentares tirariam até pedras (dores e outras complicações) do seu caminho? 

 dieta que detona pedras

A pedra que aparece nos rins tem míseros milímetros. Mesmo assim, é capaz de fazer adulto urrar de desespero. Não à toa, dizem por aí que é a dor mais próxima da do parto que um homem pode sentir. Mas, se você não quer sofrer com o nascimento de um cálculo renal, saiba que, em grande parte dos casos, está em suas mãos, ou melhor, em sua dieta, uma maneira de prevenir o problema.

Aumente o consumo de...

Líquido

Para que os rins não sejam terreno propício à formação de pedras, a primeira regra é ingerir bastante líquido. Segundo o Colégio Americano de Médicos o certo beber o suficiente para fazer cerca de 2 litros de xixi por dia. Como não dá para saber quanta urina vai embora a cada visita ao banheiro, um jeito simples de ter noção se está tudo dentro dos conformes é espiar sua cor. Ela deve ser clarinha. Se estiver muito amarela, significa que está bem concentrada. Aí o risco de os cristais se juntarem cresce.

Café

A produção de urina não depende somente de água pura e fresca. Para fechar a conta, valem sucos, sopas, frutas, verduras, chás... Até café. Um trabalho da Universidade Católica do Sagrado Coração, na Itália, avaliou três grandes levantamentos, com um total de 217 883 participantes. E ele concluiu o seguinte: no primeiro estudo, quem consumia mais café tinha um risco 26% menor de ter cálculo renal; no segundo, a redução foi de 29%; e, no terceiro, de 31%. É que a cafeína deixa a urina mais diluída, explicam os pesquisadores italianos.

Frutas cítricas

Um tipo de bebida que já caiu nas graças dos experts em rins é o suco de frutas cítricas, como de laranja e limão. Esses alimentos têm citrato, um elemento protetor. Na prática, essa molécula tem afeição especial pelo cálcio. Ao se juntar a ele, gera um composto solúvel, facilmente liberado pela urina. Assim, o cálcio não fica livre para formar as pedras. Verduras, legumes e outras frutas também têm suas doses do bendito citrato.

Iogurtes

Como as pedras são formadas basicamente por cálcio, há uma ideia de  ideia de que parar de consumir queijos, leite e iogurte, fontes do mineral, seria positivo. Errado. Além de esse comportamento abrir a porta para a osteoporose, ele só traz prejuízos para os rins. Acompanhe o raciocínio: no intestino, há grande quantidade de um composto chamada oxalato. Quando ele está sozinho, acaba partindo para o sistema urinário, onde gruda no cálcio, formando a temida pedra. Agora, se o indivíduo capricha na ingestão de cálcio, essa junção do oxalato com o mineral ocorre já no intestino. E lá eles dão origem a um complexo solúvel que sai pelas fezes.

Diminua o consumo de...

Refrigerantes

Anda de acordo com o Colégio Americano de Médicos, há evidências de que tomar essas bebidas açucaradas com frequência pode ameaçar os rins. Uma das razões seria porque os refris fazem com que mais cálcio vá parar no xixi. Mas tem mais: os líquidos gasosos facilitam o ganho de peso, situação que favorece a resistência à ação da insulina. Nessas circunstâncias, a urina costuma ficar mais ácida. E, aí, há uma maior propensão ao surgimento de cálculos de ácido úrico.

Sódio

Outra orientação essencial é pegar leve no saleiro. Quando a dieta é rica em sal, a passagem de cálcio para a urina é mais intensa. Além de diminuir as pitadas, maneire no consumo de embutidos (como linguiça, salsicha e salame), macarrão instantâneo, enlatados... Enfim, itens reconhecidamente cheios de sódio. O ideal é ingerir cerca de 2 400 miligramas desse mineral, algo em torno de 5 gramas de sal de cozinha.

Proteína animal

Vale a pena rever também quanta proteína animal vai ao prato. É que o produto final da digestão da carne é o ácido úrico – e ele pode literalmente empedrar. Para piorar, o excesso de proteína deixa o sangue levemente mais ácido. Quando isso acontece, há uma redução na excreção do citrato, aquela substância do bem. Aí já viu...

Fonte: Revista saúde

terça-feira, 3 de março de 2015

As novidades no tratamento de depressão

Um alento para as 10 milhões de pessoas que enfrentam a depressão no Brasil: com diagnóstico bem-feito e novos tratamentos – entre os quais, os efeitos secundários do Botox, ainda em estudo –, é possível sair das trevas e recuperar o gosto pela vida.

Mulher pensando

Os participantes do último Congresso Mundial de Psiquiatria, realizado em setembro em Madri, na Espanha, foram surpreendidos com a apresentação de um estudo mostrando que a toxina botulínica do tipo A (o Botox), largamente empregada para suavizar rugas, pode trazer alívio contra a depressão. “A pesquisa é inovadora porque oferece uma nova abordagem para tratar a doença, e ela não entra em conflito com qualquer recurso já disponível”, observou o psiquiatra Norman Rosenthal, professor da Georgetown Medical School, em Washington, nos Estados Unidos, e coautor do estudo, publicado no Journal of Psychiatric Research. Em parceria com o cirurgião dermatológico Eric Finzi, ele acompanhou 74 pacientes de ambos os sexos com diagnóstico de depressão moderada ou severa. Metade recebeu uma aplicação de Botox entre as sobrancelhas, nos músculos usados para franzir a testa, local onde se formam vincos que conferem a expressão de preocupação e tristeza – o chamado olhar bravo. A outra metade (o grupo controle) recebeu uma injeção no mesmo lugar, só que de solução salina. Para avaliar a depressão, os participantes passaram por testes três semanas depois – e isso se repetiu seis semanas mais tarde. O resultado: 52% dos tratados com a toxina tiveram melhora significativa ante, no máximo, 20% do outro grupo. Embora não tenha sido o primeiro trabalho a propor o Botox contra a depressão, o estudo de Finzi e Rosenthal foi o maior e mais controlado já feito e confirma que as expressões do rosto interferem no humor. Um ar mais leve e sereno acaba influenciando nosso estado de espírito. O efeito, portanto, não decorre da ação do princípio ativo sobre o sistema nervoso central, mas do benefício que a mudança facial teria sobre o ânimo e o bem-estar. Ou, como já dizia um dos fundadores da psicologia moderna, o americano William James: “Nós não rimos porque estamos felizes. Nós estamos felizes porque rimos”.
 
Essa descoberta animadora não é a única. “Diferentemente do que diz o senso comum, a depressão é tratável e a maioria dos pacientes responde bem”, assegura Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Há outras boas notícias para enfrentar a doença, que atinge 350 milhões de pessoas no mundo – mais de 10 milhões delas no Brasil –, na proporção de duas mulheres para cada homem. Segundo o presidente da ABP, parte do prejuízo associado ao transtorno pode ser evitada. As perdas a que ele se refere são a diminuição da qualidade de vida e o ônus para a sociedade, já que a depressão só fica atrás das doenças cardiovasculares. De fato, crescem as evidências de que os tratamentos funcionam e podem ser seguros inclusive para gestantes. Após acompanhar 5 mil pacientes tratados com diversos medicamentos, Robert Gibbons, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, observou melhoras substanciais em todas as faixas etárias. “Hoje o diagnóstico é mais fácil e as chances de sucesso no tratamento são maiores, o que não ocorria no passado”, diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e professor da Faculdade de Medicina do ABC.

A depressão produz uma tristeza profunda, desproporcional às circunstâncias (tudo parece assustador demais), perturba o sono e o apetite, elimina a possibilidade de sentir prazer. Ainda que não deixe a pessoa prostrada na cama nem a impeça de trabalhar, esgota sua energia. “É como se eu tivesse um elefante fantasma em cima de mim”, comparou uma paciente atendida na Beneficência Portuguesa, em São Paulo. “A depressão é a solidão dentro de nós que se manifesta e destrói não apenas a conexão com os outros mas também a capacidade de estar em paz conosco mesmos”, descreve o jornalista e escritor americano Andrew Solomon, em O Demônio do Meio-Dia (Companhia das Letras). No livro, que ganhou por aqui nova edição em julho, às vésperas da vinda do autor para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano, Solomon registra sua luta contra a doença e afirma que o oposto da depressão não é a alegria, mas a vitalidade. “O único sentimento que resta nesse estado despido de amor é a insignificância.” A saúde padece: cresce o risco de ataque cardíaco, menopausa precoce, perda de memória. Fora o perigo de suicídio. Todo ano são notificados cerca de 10 mil no país, 90% deles ligados à depressão grave. Ainda assim, Solomon defende que é possível viver bem, apesar da doença, e encontrar um sentido no caos para permanecer vivo. “Essa habilidade duramente aprendida infunde, na escuridão demoníaca, a luz do meio-dia.”

Não é um mal do nosso tempo. Os sintomas haviam sido descritos na Antiguidade pelo grego Hipócrates, o pai da medicina. O atual crescimento na incidência é atribuído ao maior número de diagnósticos e também à exposição aos gatilhos para quem nasce com predisposição genética. Entre eles estão o alto nível de stress, o ritmo acelerado da vida atual e a redução das horas de sono. Por muito tempo se supôs que a depressão fosse fruto apenas do déficit de serotonina (que atua sobre o humor, o sono e o apetite). Hoje se sabe que envolve outros mensageiros químicos, como a noradrenalina, responsável pela disposição e por manter a pressão em níveis normais, e a dopamina, que confere motivação para viver e participa do prazer, da memória e da atenção. Essa descoberta expandiu as fronteiras do tratamento. “A evolução dele tem produzido respostas mais rápidas”, destaca Antônio Geraldo da Silva. O combate à doença é feito com antidepressivos, como fluoxetina, sertralina e escitalopram, que normalizam a serotonina; ou a venlafaxina e a duloxetina, que agem sobre a serotonina e a noradrenalina. Também a agomelatina é usada para mirar os receptores da melatonina, indutora do sono. O psiquiatra faz a defesa dos antidepressivos: “Eles não viciam – como os remédios de tarja preta, erroneamente usados contra depressão, já que não conseguem debelá-la”. Os efeitos colaterais, em geral, são leves e toleráveis e variam de boca seca a náuseas.
Como os primeiros resultados aparecem em três semanas, os cientistas tentam abreviar o tempo de espera. Eles têm procurado um teste que aponte previamente se o paciente reagirá bem e rapidamente ao medicamento. Um possível marcador é o fibrinogênio, proteína fundamental para a coagulação. “Observamos que os pacientes com baixa concentração sanguínea de fibrinogênio respondem melhor”, diz o biólogo Daniel Martins de Souza, que iniciou os estudos na Universidade de Munique, na Alemanha, e continua agora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Se o “candidato” for aprovado, a etapa seguinte será desenvolver estratégias para melhorar a resposta, como o uso da aspirina, dada a sua capacidade de inibir a ação do fibrinogênio.

Estímulos elétricos e magnéticos

Quando não há alívio, a depressão é considerada refratária. Então, podem ser adotados métodos como a eletroconvulsoterapia (ECT), em que o paciente recebe uma descarga elétrica de dois segundos para induzir convulsões e aumentar a concentração dos neurotransmissores que trazem bem-estar. “O procedimento é seguro e eficaz, pode ser indicado até para gestantes, mas, como requer internação e anestesia, não é usado como rotina”, explica Antônio Geraldo da Silva. Outro método é a estimulação vagal, que está sendo investigado na Universidade de São Paulo (USP). É invasivo: com procedimento cirúrgico, um aparelho semelhante a um marcapasso é instalado para estimular o nervo vago (um dos dez pares de nervos cranianos) e reequilibrar a produção de neurotransmissores. Já a estimulação magnética transcraniana (EMT) utiliza ímãs e ondas eletromagnéticas para promover alterações na atividade das células nervosas. “O efeito ainda não se compara ao do eletrochoque”, afirma o psiquiatra.

Uma arma importante é a psicoterapia. “Em caso de depressão leve ou moderada, ela é tão eficaz quanto os medicamentos”, diz o psicólogo Armando Ribeiro, coordenador do Programa de Avaliação do Stress da Beneficência Portuguesa, que acaba de participar de um curso de atualização em stress, ansiedade e depressão na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. “O melhor mesmo é associar as duas ferramentas, já que uma potencializa a outra.” Nas depressões severas, a psicoterapia ajuda a reduzir o risco de suicídio. As linhas mais usadas são a terapia comportamental cognitiva e a interpessoal. A primeira entende que os padrões de pensamento determinam as ações e, por isso, estimula o paciente a reconhecer e modificar visões distorcidas da realidade e transformar seu modo de agir. Já a interpessoal aprimora a capacidade de estabelecer relações saudáveis e resolver conflitos.

Fim do preconceito contra a depressão

Mais um aliado é o exercício físico regular. Caminhadas, musculação, dança e natação ativam a produção de endorfinas, o que leva ao bem-estar. “Além disso, aumentam o fluxo de oxigênio para o cérebro, estimulando novas conexões entre as células nervosas nas áreas debilitadas pela depressão”, esclarece Armando Ribeiro. O psicólogo sugere também a acupuntura: “Melhora o sono e ajuda a modular a produção de neurotransmissores”. Meditação e outras práticas de atenção plena (mindfulness) são bem-vindas. “Na depressão, o pensamento se prende ao passado. Essas técnicas mantêm a mente no presente.” Também contribuem o apoio da família e dos amigos e a fé (não no sentido religioso, mas de acreditar em algo). “Quem conta com esses suportes precisa de menos remédios”, diz Arthur Guerra. Para superar o estado depressivo e preveni-lo, é recomendado adotar dieta equilibrada (alimentos ricos em fontes de ômega 3, como sardinha, salmão, linhaça dourada e quinua), tomar sol (para ativar a síntese de vitamina D) e aprender técnicas para administrar o stress.

Mas, antes, é preciso vencer o preconceito. A campanha “Psicofobia é crime”, promovida pela ABP, luta pelo fim do estigma contra quem sofre com desordens mentais. “A depressão é uma doença como diabetes ou hipertensão. Não tem a ver com escolha, tipo de personalidade, covardia ou falta de força de vontade”, ressalta Antônio Geraldo da Silva. “Ninguém diz a um portador de diabetes: ‘Agora se concentre, faça um esforço e baixe sua glicose’. Em vez disso, o paciente é encaminhado a tratamento. Do mesmo modo, quem tem depressão deve ser visto como um doente que precisa de atendimento.” Solomon escreve em seu livro: “Todos gostaríamos que o Prozac resolvesse o problema, mas, pela minha experiência, o Prozac não resolve, a não ser que o ajudemos”. Isso também se aplica ao Botox ou a outros métodos que estão dando perspectivas de futuro para muita gente.

Fonte: Revista saúde