A expectativa de vida nos países desenvolvidos e em desenvolvimento
aumentou, as pessoas estão vivendo cada vez mais e, por conta disso, uma
área da odontologia tem crescido também: a odontogeriatria, que cuida especificamente da saúde bucal da terceira idade.
O especialista em odontogeriatria Dr. Fernando Montenegro explica que
a boca faz parte do corpo humano e que todos os sistemas são
interdependentes. Se a pessoa tem um problema bucal,
isso pode refletir em todo o organismo, por isso a saúde bucal é muito
importante.
"A inter-relação de problemas bucais com doenças
cardiovasculares, com diabetes, com pneumonia aspirativa, com problemas
estomacais é cada dia mais discutida na literatura científica e
comprovada na prática clínica com pacientes mais velhos, ainda mais
quando estes se encontram acamados ou em UTIs".
Além da questão da saúde do organismo, tem também a relação com a
autoestima. "Ter dentes em bom estado, ou então usar próteses
adequadamente adaptadas, garante que a pessoa possa mastigar os
alimentos com os melhores nutrientes, além de ter uma boa aparência, o
que vai mantê-la na sociedade".
Problemas mais comuns
Ele explica que a doença bucal mais comum na terceira idade é a periodontite,
um problema de inflamação gengival que se agrava e leva à perda do osso
de suporte dos dentes, deixando-os amolecidos. Mas é importante
salientar que ela NÃO é característica do envelhecimento, e sim
decorrente de um cuidado inadequado com os dentes por toda a vida,
porque as pessoas não seguem adequadamente os cuidados preventivos,
citados abaixo.
Outra afecção comum nos idosos são as cáries,
especialmente as de raiz. "Nesses casos, o uso diário do flúor ajudaria
e muito na prevenção, somado ainda à escovação e uso de fio dental".
O mau hálito, ainda que tenha muitas outras origens
extrabucais, está intimamente ligado à não limpeza da parte posterior da
língua com limpadores de língua plásticos e a uma não limpeza cuidadosa
das próteses, mesmo totais, que o idoso use, por isso a higiene se faz
fundamental.
Mas todasas doenças acima e ainda a candidíase bucal são em muito
aumentadas quando a pessoa tem uma diminuição do fluxo salivar (chamada
xerostomia), que é causada pelo efeito colateral bucal de cerca de 60%
dos remédios que o idoso ingere normalmente. Conhecida por "boca seca",
além de aumentar as cáries, doença periodontal, saburra na língua e mau
hálito, impede uma mastigação adequada dos alimentos, o que obriga a
pessoa a mudar a consistência de sua dieta, que vai causar problemas
digestivos. Ele explica: suas próteses totais superiores caem com
facilidade e aí eliminam as fibras da dieta, prejudicando a absorção de
bons nutrientes e prejudicando o trânsito estomacal, com aumento da
constipação intestinal, um problema muito comum nos idosos com esta
patologia. A pessoa perde a percepção de gosto dos alimentos e aí coloca
mais açúcar e mais sal no que come, influenciando no controle da
diabetes e da pressão arterial. Formam-se mais colônias de bactérias na
boca, que, além de permitirem maior chance de contaminação pulmonar (e
pneumonia), acabam, via gengivas inflamadas, entrando na corrente
sanguínea e atingindo órgãos vitais como o coração e todo o sistema
circulatório. Por isso, a xerostomia é a mais devastadora das doenças
bucais, mas seu tratamento é multidisciplinar, pois exige
mudança/diminuição nas medicações, que só podem ser receitadas pelos
médicos.
"Além disso, ainda existem as interferências periodontais de uma
diabetes mal controlada, uma hipertensão que dificulta certos trabalhos
odontológicos, estados anêmicos gerais que ajudam a causar traumas nos
tecidos bucais e depressões do sistema imunológico do idoso, que,
somados à xerostomia, causam um aumento exagerado do número de bactérias
na boca".
Como se vê, não se pode separar saúde bucal da saúde geral do
indivíduo, nem considerar que problemas sistêmicos (de todo o organismo
da pessoa) não tenham repercussões bucais de média e alta significância.
E quais os meios preventivos para chegar à velhice com boa saúde bucal?
- Ir ao dentista a cada seis meses.
- Evitar alimentos que causem cárie.
- Usar corretamente a escova de dentes, a cada refeição.
- Usar o fio dental com muita calma e, principalmente, uma vez ao dia.
- No caso da pessoa usar próteses, visitar o dentista frequentemente
para verificar se as próteses e os implantes estão funcionando bem,
especialmente nas duas primeiras próteses, onde uma perda de adaptação
nas bases acaba levando a uma reabsorção óssea que cada vez mais
dificulta seu uso.
- Limpar a língua com um limpador de língua plástico.
- Não existem cremes dentais ou bochechos "milagrosos". Só existe o
real remover de restos dos alimentos em cada canto de sua boca e dentes.
- Usar flúor.
"Vale salientar que tudo em relação à saúde bucal diz respeito à
prevenção. Às vezes a pessoa opta por retardar um tratamento de canal ou
periodontal, por exemplo, mas isso só faz com que a chance de perder
aqueles dentes seja bem maior que antes.
Fonte: Idmed
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