Escolher este ingrediente nunca exigiu
tanto tempo – tem versão de tudo quanto é cor e lugar. Entenda se esses
chamarizes fazem diferença para a sua saúde.
Sal.
Até pouco tempo, chegar nesse item da lista de compras causava alívio.
Afinal, ao contrário de outros produtos, não havia muito o que
pesquisar ou inspecionar nas gôndolas. Mas uma onda de sais coloridos
vindos dos cantos mais exóticos do planeta, como montanhas do Himalaia,
Chipre e Marrocos, deixou esse processo meio demorado. Além disso,
despertou uma dúvida no consumidor: seriam esses temperos com apelo
gourmet mais saudáveis?
Ao ler folhetos distribuídos em empórios
ou fazer buscas pela internet, qualquer pessoa acharia que sim – e
toparia pagar (muito) mais por eles. Mas as nutricionistas Eliana
Giuntini e Kristy Soraia Coelho não engoliram de cara a história de que
tais produtos exerceriam todos aqueles benefícios propagados.
Por
isso, as profissionais do Centro de Pesquisa em Alimentos (o FoRC),
vinculado à Universidade de São Paulo e à Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp), decidiram fazer uma revisão dos
estudos que investigavam os efeitos positivos do sal rosa e companhia.
Sabe o que encontraram? Nada.
Na verdade, a única coisa que elas
acharam de válido foi um artigo que esmiuçou a composição desses
alimentos. “De fato, eles têm mais minerais, porque não passam pelo
refinamento”, revela Eliana. “Só que em hipótese alguma podem ser
considerados fontes desses micronutrientes”, avisa a nutricionista.
É
só olhar a tabela que colocamos mais abaixo. Dá para dizer que o sal
rosa possui quatro vezes mais cálcio do que o refinado? Sim, claro.
Mas, no fim das contas, os dois tipos oferecem poucas doses do mineral.
Veja: 5 gramas do tempero gourmet concentram 8 miligramas de cálcio,
sendo que a recomendação é consumir 1 000 miligramas do nutriente por
dia. Ou seja, é um baita exagero dizer, por exemplo, que esses sais
ajudariam na prevenção da osteoporose, como se ouve por aí.
Outro
contrassenso detectado pelas pesquisadoras do FoRC é afirmar que os
sais diferentosos concentrariam menos sódio e, consequentemente, dariam
uma força no controle da pressão arterial. “Só que eles apresentam
praticamente o mesmo teor do mineral que encontramos na versão
refinada”, esclarece Kristy. Portanto, desse ponto de vista a troca
também não compensaria.
A substituição total do sal de cozinha
comum por um dos gourmets até poderia acarretar prejuízos. É que eles
não recebem adição de iodo, como ocorre com o tipo refinado no Brasil
desde 1953. Tanto que o tempero é nosso principal fornecedor do
nutriente, primordial para garantir a produção de hormônios da
tireoide. Com ele em falta, abre-se caminho para chateações como o
bócio. “Não à toa, esse quadro é bastante prevalente na região do
Himalaia”, destaca Eliana.
Nada disso significa que você deve
jogar fora os sais gringos que já levou para casa ou se negar a
prová-los. Se curtir o sabor e a crocância que eles dão ao prato,
tranquilo. Só não faz sentido achar que esbanjam nutrientes e ajudam a
economizar no sódio. “Tem que pensar nesses produtos dentro de um
contexto gastronômico”, reforça Eliana. No quesito saúde, dá na mesma
recorrer ao velho (e acessível) sal refinado.
Salgado na medida
Seja
rosa, seja negro, seja o branco mesmo… o que não muda é a orientação da
Organização Mundial da Saúde para consumirmos até 5 gramas diários de
sal (ou 2,3 gramas de sódio). Um desafio e tanto, já que o ingrediente
está naturalmente nos alimentos, é adicionado aos industrializados e
realça o gosto da comida. No fim do dia, o brasileiro ingere cerca de
12 gramas do tempero.
“É altamente comprovado que o excesso de
sódio está associado a uma maior dificuldade de controlar a pressão e
até de desenvolver hipertensão”, diz o cardiologista Luiz Bortolotto,
diretor da Unidade Clínica de Hipertensão do Instituto do Coração
(InCor), em São Paulo.
É verdade que surgiram estudos
questionando essa má fama dirigida ao sódio. O cardiologista Marcus
Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia
(SBC), reconhece que há indivíduos mais resistentes ao seu poder de
elevar a pressão.
“Não dá mesmo para dizer que ele fará mal a
todo mundo. Mas o fato é que o exagero será nocivo para a maioria das
pessoas”, afirma. “Sem contar que não conseguimos saber quem é sensível
ou não”, emenda a nutricionista Marcia Gowdak, da Sociedade de
Cardiologia do Estado de São Paulo.
Para completar, Malachias
lembra que muitos desses trabalhos são com populações jovens, em que a
prevalência de hipertensão é baixa. Quando a idade avança, porém… “Em
gente com mais de 40 anos, a incidência da doença pode chegar a 35%.
Acima dos 60 anos, esse número vai para 60 ou 70%”, estima o médico
Maurilo Leite, chefe de nefrologia do Hospital Clementino Fraga Filho,
no Rio de Janeiro.
Liberar mais de 5 gramas de sal por dia
poderia antecipar o quadro entre quem tem propensão. E o chabu tende a
ocorrer na surdina. “Esse é o grande mistério da hipertensão: ela não
dá sintomas”, relata Leite, que se descobriu hipertenso aos 30 e poucos
anos e hoje controla a situação com a trinca remédios, exercícios e
dieta com sódio na medida.
O preocupante é que não raro a
hipertensão se manifesta já na forma de um infarto ou AVC. Leite
ressalta ainda que, em nosso país, ela é a principal causa de doença
renal crônica – quando os rins deixam de executar suas funções.
É
claro que outras medidas se fazem cruciais para afastar a encrenca:
tem que manter o peso adequado, sair do sofá e investir em uma dieta
equilibrada como um todo. Caprichar em frutas, verduras e legumes, por
exemplo, enche o corpo de potássio, um antagonista do sódio. “Mas não
dá para ignorar a redução do sal”, frisa Marcia. A compra do
ingrediente não precisa dar um nó na cabeça – nem acontecer todo mês.
Diferentes, mas nem tanto
Embora alguns sais tenham mais minerais, o teor não chega perto do que precisamos por dia. Com exceção do sódio*
Marinho
Cálcio: 6,5 mg
Potássio: 9 mg
Sódio: 1 925 mg
Zinco: 0,02 mg
Ferro: 0,14 mg
Magnésio: 12,45 mg
Rosa
Cálcio: 8 mg
Potássio: 14 mg
Sódio: 1 840 mg
Zinco: 0,02 mg
Ferro: 0,18 mg
Magnésio: 5,3 mg
Refinado
Cálcio: 2 mg
Potássio: 4,5 mg
Sódio: 2 000 mg
Zinco: 0,025 mg
Ferro: 0,05 mg
Magnésio: 0,07 mg
Meta diária
Cálcio: 1 000 mg
Potássio: 4 700 mg
Sódio: 2 000 mg
Zinco: 8 mg
Ferro: 8 mg
Magnésio: 310 mg
*Os valores se referem a 5 gramas de cada sal
Sal x sódio
Sódio
é o principal mineral presente no sal. Por isso é preciso dosar o
tempero muito bem. É recomendado consumir, no máximo, 5 gramas de sal
por dia. Isso dá 2 mil miligramas de sódio.
Agora, se a tabela
nutricional for baseada em uma porção, o teor de sódio diz respeito só a
essa quantidade. Por ser conservante, o sódio está nos
industrializados, como embutidos e congelados.
Fonte: Revista saúde