Não dá para negar que esse câncer, o mais frequente
entre os brasileiros, vem ganhando atenção especial por aqui. Nossa
nação foi a primeira a banir as câmaras de bronzeamento artificial,
comprovadamente capazes de incitar o problema, e estabeleceu uma
regulamentação mais rigorosa para protetores solares.
A comunidade científica também demonstra preocupação com o tema. Tanto
que o pesquisador Teiti Yagura concluiu um estudo no Instituto de
Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo sobre como a radiação
solar fomenta alterações cancerígenas no código genético das células.
"Já sabíamos que ela consegue deformar o DNA", afirma Yagura, hoje na
Universidade de Kyoto, no Japão. "Agora vimos que, quando recebe raios
ultravioleta A, aqueles que incidem durante todo o período diurno, o DNA
absorve essa energia e, então, geraria uma molécula nociva que pode, em
tese, lesá-lo", explica.
No Congresso Mundial de Câncer de Pele, sediado em São Paulo, foram
discutidas alternativas que previnem ou até controlam esses danos
provocados pelo excesso de exposição ao astro rei. "Recentemente
apareceram armas inovadoras que auxiliarão a combater os tumores de
pele", garante Antonio Carlos Buzaid, chefe geral do Centro Avançado de
Oncologia do Hospital São José, na capital paulista. Confira algumas das
principais virando a página - mas tenha em mente que se proteger do sol
sempre será o melhor remédio contra essa enfermidade.
Um remédio contra o tipo mais violento de tumor de pele
Só 4% dos cânceres que afligem a derme são melanomas. Ainda bem. Embora
menos comum, tal variadade é muito perigosa - fique de olho em pintas
assimétricas, de borda irregular, com mais de uma cor, ou que cresceram
nos últimos tempos. Quando não flagrada no início, torna-se mortal. E é
para esses casos que veio o ipilimumabe, droga já aprovada pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. "A medicação deixa o sistema imune
agressivo e, logo, propenso a atacar o tumor", esclarece Buzaid. Nos
estudos, o fármaco elevou a sobrevida dos pacientes e, em algumas
situações, até os curou. "Apesar de possuir efeitos colaterais, ele
costuma ser bem tolerado", acrescenta Buzaid. No momento, os médicos
aguardam os resultados de uma pesquisa que testou o ipilimumabe em
melanomas menos avançados.
O gel que apaga manchas cancerígenas
"Em uma pele muito exposta ao sol, às vezes surgem manchas avermelhadas
e ásperas", ensina o dermatologista Beni Grinblat, do Hospital
Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Denominadas queratoses
actínicas, elas evoluem em 20% dos casos para um tipo de tumor. De modo a
impedir essa progressão, a empresa Leo Pharma criou um gel à base de
mebutato de ingenol, disponível no Brasil a partir de 2013. "O creme
elimina as células alteradas, é fácil de ser aplicado pelo
dermatologista e tudo indica que traz bons resultados", diz Francisco
Paschoal, dermatologista da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São
Paulo. Como todo remédio, ele demanda prescrição.
Onde você menos imagina
O melanoma pode surgir na planta dos pés, nas nádegas, no couro
cabeludo e em outras áreas onde o sol não bate. "Por isso é importante
autoexaminar todo o corpo", reforça Gwen Corrigan, enfermeira do
americano MD Anderson Cancer Center. Um espelho de mão ou o parceiro ou a
parceira ajudam nessa tarefa.
O filtro que repara o DNA das células
Além de bloquear raios solares, o protetor Eryfotona, da Isdin, conta
com uma substância batizada de repairsome, que reverte parte dos
estragos nos genes advindos de horas e mais horas na praia. "Nos testes,
as amostras de pele com repairsome sofreram menos alterações no seu
DNA", aponta Paschoal. Ou seja, o produto atua tanto na prevenção como
na restauração da cútis torrada. Hoje, ele é recomendado para quem teve
um câncer de pele ou para pessoas com alto risco de desenvolver a
chateação. Daí a razão do FPS 100. "Isso não quer dizer que seu fator de
proteção solar é duas vezes maior do que o de um filtro com FPS 50 e
que as pessoas podem se expor à vontade", ressalva Eliandre Palermo, da
SBD e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. No futuro,
talvez o filtro seja indicado para todos, mas isso depende de estudos.
Bronzeamento nada saudável
Ficar horas ao ar livre sem nenhuma proteção contra o sol queima o código genético de duas maneiras:
1. Estrutura abalada
O DNA é formado por, entre outras moléculas, timinas, que se conectam a
adeninas. E os raios ultravioleta, quando penetram no núcleo celular,
quebram essa ligação.
2. DNA entortado
A energia da radiação solar ainda faz com que uma timina se ligue a
outra idêntica, desfigurando o DNA. Se a célula não corrige o defeito
direito, surgem mutações cancerígenas.
1. Fogo no palheiro
O DNA capta os raios ultravioleta A. Aí, ele repassa a energia para
partículas de O2, que se tornam nocivas e ganham o nome de oxigênio
singlete.
2. O incêndio
Essas moléculas agressivas, se não barradas pelas defesas do corpo,
atacam os genes. Isso, em teoria, também daria em mutações que são o
estopim para tumores.
Uma nova droga faz o organismo se rebelar contra o melanoma:
1. Um alvo difícil
O tumor muitas vezes nem é visto como um inimigo pelo corpo. Ou seja, apenas um ou outro anticorpo o enfrenta.
2. Pra piorar
Após 48 horas do início do ataque, entram em cena os linfócitos
reguladores, células que desativam os poucos soldados que assaltavam o
câncer.
3. Uma tropa insaciável
O ipilimumabe se liga ao linfócito regulador, inibindo sua
atividade. Com isso, os anticorpos não são desligados, identificam o
malfeitor e partem com tudo para cima dele.
Como o repairsome, princípio ativo do novo protetor, conserta o DNA:
1. Acesso à célula
A camada externa do repairsome é feita de lipossoma. Essa substância
se funde com a membrana da célula, liberando a enzima fotoliase no seu
interior.
2. A restauração
A fotoliase então entra no núcleo e, ao receber luz do ambiente,
começa, digamos, a reconstruir o DNA parcialmente comprometido.