Pesquisas não param de apontar uma relação estreita entre a prática
cotidiana de exercícios e a prevenção de males cardiovasculares. Mas
quais são os mecanismos por trás desse efeito? Para esclarecer o
assunto, conversamos com o médico Nabil Ghorayeb, especialista em
cardiologia do esporte, membro da Sociedade de Cardiologia do Estado de
São Paulo, a Socesp, e, coordenador clínico do Sport Check-up do
Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. Confira a entrevista
exclusiva:
De que maneira a atividade física protege o coração?
São vários os mecanismos por trás dos benefícios. Há desde alterações no
metabolismo em geral e perda de peso até o aumento na produção de
substâncias que protegem os vasos sanguíneos, caso das citocinas que
ajudam a inibir a formação de placas, passando pela melhor modulação da
pressão arterial e pela redução das taxas de glicose e de triglicérides.
A prática cotidiana de exercícios — ou seja, meia hora de atividade 5
vezes por semana — está diretamente envolvida com o aumento na produção
das tais citocinas que impedem a deposição de gordura no endotélio, o
tapete celular que recobre as artérias. É possível afirmar que a
atividade física ajuda a prevenir a aterosclerose. Mas, vale destacar,
esse resultado só se dá após 14 semanas de treinos regulares.
Por falar em gordura, como ficam os níveis de colesterol? Os exercícios favorecem o controle?
Embora os efeitos sejam discretos, estudos mostram que a atividade
física reduz cerca de 10% das taxas de LDL, o chamado colesterol ruim,
isto é, aquele que serve de gatilho para a formação de placas nas
artérias. Em contrapartida há o aumento – de até 10% em um ano – do HDL,
o bom colesterol, que impede os depósitos gordurosos nos vasos. Também
devemos salientar que entre esportistas a alimentação costuma ser mais
equilibrada, o que soma muitos pontos a favor.
E por que o equilíbrio das taxas de glicose também é benéfico ao coração?
Quando nos exercitamos, os níveis de insulina ficam mais estáveis na
circulação. Isso ocorre graças ao aumento da captação de glicose pelas
fibras musculares. Esse mecanismo é considerado fator de proteção contra
males cardiovasculares porque, quando há excesso de açúcar no sangue,
existe maior risco para lesões arteriais e, consequentemente, para a
deposição de gordura e formação de placas.
Para proteger o coração é importante combater o sedentarismo a partir de qual idade?
Desde a infância. Estimular a prática lúdica de esportes logo nos
primeiros anos é garantia de longevidade. Sem contar que a criança
cresce com mais afinidade para exercitar-se e isso pode ajudar a evitar
que desista da atividade física quando chegar à vida adulta.
Por que o sedentarismo é tão comum entre os brasileiros?
Tem tudo a ver com a falta de estímulo. É corriqueiro ver por aí pessoas
que ingressam nas academias e rapidamente abandonam os treinos. Por
isso, é fundamental enfatizar que deve haver prazer durante as
atividades. É importante que se escolha aquilo que dê mais satisfação,
seja dança, caminhada, corrida, musculação. Aliás, a prática de
exercícios em grupo costuma ser uma ótima estratégia para evitar
desistências.
Qual o elo entre a prática de exercícios e o bem-estar emocional, que também conta pontos a favor da saúde cardiovascular?
Volto a dizer que é fundamental que a atividade física seja escolhida de
acordo com a preferência. Cada um deve se dedicar ao que gosta. Os
exercícios disparam a produção de substâncias que promovem o relaxamento
e a alegria, o que também é indispensável para proteger o coração. As
pessoas que praticam esportes são mais divertidas e têm maior grau de
sociabilização, ou seja, melhor convivência em grupo, além de mais ânimo
no trabalho.
Fonte: Revista saude editora abril
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