A musculação deixou de ser vista como
inimiga da saúde dos jovens para se tornar uma aliada do crescimento.
Ela protege até contra o diabete e outros males que ameaçam a rapaziada
nos dias de hoje.
De décadas atrás para cá, dois paradigmas
com relação aos adolescentes foram quebrados. O primeiro é o de que
problemas como diabete tipo 2, colesterol alto e hipertensão quase nunca
atormentariam meninos e meninas. O segundo é o de que essa população
não deveria nem pensar em levantar peso. "Hoje, muitos jovens obesos e
sedentários chegam ao consultório com sinais dessas doenças", diz
Maurício de Souza Lima, hebiatra do Instituto da Criança do Hospital das
Clínicas de São Paulo. "Uma das alternativas para evitálas ou ao menos
controlá-las é justamente os enviar à academia", sentencia.
Um estudo da Universidade de Granada, na Espanha, confirma o efeito
benéfico dos exercícios de força na prevenção do diabete. Após avaliar 1
053 voluntários entre 12 e 18 anos, os cientistas descobriram que
músculos bem condicionados facilitam o trabalho da insulina, a
responsável por tirar açúcar da circulação e colocá-lo dentro das
células. Já braços e pernas fracos não raro vêm acompanhados de certo
grau de resistência ao hormônio, indicativo de que a enfermidade está à
espreita. "A massa muscular consome bastante combustível. Isso, fora
diminuir as taxas de glicose, melhora a ação da insulina", explica o
educador físico David Jiménez Pavón, autor do artigo.
Em outro levantamento, o mesmo especialista revelou que bíceps, tríceps e
companhia em forma estão associados a um bom funcionamento da leptina
no corpo da garotada. "Essa substância regula o apetite. Portanto, ao
menos em teoria, os treinos de força podem ajudar adolescentes a não
comer além da conta", arremata Jiménez Pavón. Uma vantagem muito
bem-vinda, principalmente quando se considera que, segundo a mais
recente pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, 47%
dos brasileiros entre os 12 e os 18 anos sofrem com sobrepeso.
A malhação já foi acusada de deixar a molecada baixinha. E isso até
acontece, mas não por causa dos movimentos em si, e sim devido a uma
intensidade elevada demais. "O excesso de carga, não importa o tipo de
atividade, causa microtraumas nos ossos, o que pode interromper o
crescimento ou provocar deformações", avisa Vinícius de Mathias Martins,
ortopedista do Hospital São Luiz, na capital paulista. "Sem contar que
um corpo ainda imaturo fica especialmente sujeito a lesões se submetido a
atividades pesadas", completa Isabel Salles, fisiatra e coordenadora do
Serviço de Reabilitação do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Na contramão, quando supervisionada por educadores físicos qualificados,
a musculação ajuda no desenvolvimento saudável dessa turma. Tanto que a
Academia Americana de Pediatria atesta que inclusive pré-adolescentes -
se gostarem da modalidade, estiverem amadurecendo sem problemas e forem
avaliados por um médico - podem frequentar as salas de ginástica. "Isso
não quer dizer que eles precisem levantar peso. O importante é não
ficarem parados. Vale pular corda, jogar bola, escalar árvore...",
ressalta Maurício de Souza Lima.
Os exercícios resistidos, na medida ideal, acarretam benesses para o
esqueleto que se estendem à vida adulta. "Essas atividades aumentam a
densidade óssea, diminuindo o risco de, no futuro, o indivíduo ter
osteoporose", ensina Christiano Bertoldo Urtado, fisiologista da
Unicamp. Isso sem falar que deixam a musculatura equilibrada, trazendo
uma melhor coordenação e afastando as contusões.
Só fique de olho se o adolescente vai à academia pelas razões certas -
ou seja, pelo bem-estar e por se divertir com outras pessoas. Dar muita
atenção à estética, nessa fase, costuma terminar em exageros que, como
você viu, não fazem nada bem. E, de quebra, contribui para disseminar o
conceito errado de que a musculação sabota o desenvolvimento. Muito pelo
contrário.
Fora da sala de ginástica
Existem jovens que não gostam das práticas oferecidas nas academias.
Nesses casos, forçá-los a entrar nesse ambiente só trará um vínculo
negativo com os exercícios. "Dá para fortalecer a musculatura com
atividades específicas dentro do esporte favorito de cada um. Basta um
bom orientador", garante Christiano Bertoldo Urtado, fisiologista da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista.
Crescimento firme e forte
Os exercícios de força auxiliam meninas e meninos a espichar
Efeito nos músculos
1. Cérebro treinado
A musculação e outras atividades físicas
estimulam na hipófise - estrutura no meio da massa cinzenta - a produção
de GH, que é o hormônio do crescimento.
2. Uma viagem pelo corpo
O GH, então, perambula pela
circulação sanguínea até chegar ao fígado. Lá, manda esse orgão fabricar
IGF, um hormônio que, entre outros destinos, vai aportar nos músculos.
3. Musculatura desenvolvida
O IGF, ao chegar a esse
tecido, patrocina o crescimento de suas fibras. Além disso, novas
células são criadas na região, deixando a musculatura mais comprida.
Efeito nos ossos
1. Esqueleto em obras
O hormônio GH e o próprio trabalho dos
músculos ativam os osteoblastos dentro do disco epifisário, uma espécie
de cartilagem localizada no interior dos ossos longos dos jovens.
2. Construção do arcabouço
Os osteoblastos, aí, calcificam aos poucos parte dessa cartilagem, aumentando o tamanho dos ossos no sentido longitudinal.
Recomendações para a garotada
Nunca realizar exercícios de hipertroma (poucas repetições e muita carga)
Fazer os movimentos sem peso até dominar a técnica de cada um deles
Treinar no máximo três vezes por semana
Ajustar os equipamentos para o tamanho do jovem
Incluir atividades aeróbicas, como a corrida
Fonte: Revista saude - editora abril
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