Asfixia,
queda, afogamento e queimadura são alguns dos principais acontecimentos
que podem colocar a vida dos pequenos em risco dentro de casa. Além de
prevenir essas situações, é preciso saber também o que fazer na hora em
que elas acontecem.
Todo
ano, 4,7 mil crianças morrem e 122 mil são hospitalizadas por causa de
acidentes ou lesões não intencionais, segundo o Ministério da Saúde. Com
esses números, dá para entender por que os acidentes são a principal
causa de morte de brasileiros de 1 a 14 anos de idade. "Muitos deles acontecem no ambiente doméstico,
principalmente com as crianças pequenas, que ficam mais tempo em casa",
revela a pediatra Renata Waksman, do Departamento Materno Infantil do
Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Entre os bebês que ainda não completaram o primeiro
aniversário e aqueles que têm entre 1 e 2 anos, os acidentes que mais
matam são as aspirações de objetos estranhos, como brinquedos e
alimentos. Na faixa etária dos 2 aos 4 anos, as estatísticas apontam que
os afogamentos e os acidentes de trânsito, a exemplo dos
atropelamentos, são os mais fatais. "Se analisarmos os casos de
atendimentos em prontos-socorros (e não de mortes), as quedas são a
maioria", conta Renata Waksman, que também faz parte do Departamento de
Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP).
A boa notícia é que a maior parte dessas situações pode ser
evitada com medidas preventivas simples. Mas quando uma delas acontece,
saber como agir pode ser fundamental para salvar a vida do pequeno. A
seguir, fique por dentro do que deve ser feito em cada tipo de acidente
doméstico, das atitudes que não podem ser tomadas e de como manter a sua
família longe de tudo isso.
Sufocamento e asfixia
Essas são as principais causas de mortes de crianças de até 2
anos. Em geral, esse tipo de acidente acontece quando bebês ingerem
pedaços muito grandes de alimentos ou até objetos como peças de
brinquedos, bolinhas de gude ou moedas. "O sufocamento também pode ser
ocasionado por sacos plásticos, cordas e protetores de berço", alerta o
pediatra Alberto Helito, do Instituto da Criança do Hospital das
Clínicas de São Paulo.
Para prevenir essa fatalidade, é importante manter o seu
filho longe de todas essas ameaças. Isso pode ser feito, por exemplo,
oferecendo a ele comidinhas adequadas para a sua idade, como a papinha, e
verificando a faixa etária indicada de todos os seus brinquedos.
O que fazer na hora do acidente
Se, ao engolir um alimento ou algum outro item, a criança
estiver tossindo, a orientação é ficar perto e esperar até que ela
consiga expelir sozinha o objeto estranho. Caso isso não aconteça e o
pequeno fique pálido, é preciso chamar o resgate o mais rápido possível e
procurar alguém que saiba fazer as devidas manobras de desengasgo e
desobstrução das vias aéreas. "O ideal é que todo mundo que lida com
crianças, não só os pais, faça um curso chamado Suporte Básico de Vida
para aprender a realizar essas manobras", indica Renata Waksman. Se
feitas de forma incorreta, elas podem colocar a vida do seu filho em
risco. Portanto, nada de tentar por conta própria!
O que não deve ser feito
Uma das atitudes que os pais costumam ter nesses momentos é
colocar a mão dentro da boca da criança na tentativa de retirar o
objeto. Mas isso pode piorar ainda mais a situação. "Na maioria das
vezes, a pessoa acaba empurrando mais pra dentro o objeto", alerta
Helito.
2. Queda
Está aí outro acidente doméstico bastante comum - e não
pense que ele só acontece com os maiorzinhos. "A partir dos 4 meses, o
bebê já consegue rolar, mas muitos pais não sabem dessa habilidade.
Então, há casos em que a criança cai da cama ou do trocador",
exemplifica o pediatra do Instituto da Criança.
Para se manter longe disso, não tem jeito: é preciso estar
sempre de olho nos pequenos. Em casa, certifique-se de que todas as
janelas estejam travadas ou tenham telas de proteção ou grades; bloqueie o acesso às escadas e remova tapetes ou opte por modelos antiderrapantes.
O que fazer na hora do acidente
"Primeiro, segure a criança até que ela pare de chorar e
observe sintomas diferentes do usual", orienta a pediatra do Einstein.
Entre eles estão perda de consciência, palidez, vômitos, choro
prolongado, alterações no comportamento (sonolência ou agitação
excessivas) e dor no pescoço ou nas costas. "Caso a criança esteja
inconsciente, não é aconselhável removê-la do local", adverte Renata.
Aí, o melhor é chamar socorro e verificar se ela está respirando. Se não
estiver, deve-se aplicar as manobras de ressuscitação - desde que haja
alguém apto para fazer isso.
O que não deve ser feito
Demorar para levar ao hospital ou chamar uma ambulância.
3. Afogamento
Não pense que esse tipo de acidente acontece só no mar ou na
piscina - baldes, vasos sanitários e banheiras também são um perigo!
Para prevenir o afogamento, além de supervisionar as crianças (inclusive
as mais velhas) quando elas estiverem perto de qualquer um desses
locais, oriente-as a respeitar placas de proibição em praias, a não
brincar de empurrar uns aos outros dentro d’água e nem fingir que está
se afogando. Em casa, mantenha os baldes vazios e os banheiros fechados.
O que fazer na hora do acidente
Remova a criança o quanto antes do local e deixe-a deitada.
"É importante mantê-la aquecida, porque a hipotermia, que é a baixa
temperatura, agrava os sintomas do afogamento", indica Alberto Helito. E
chame socorro imediatamente.
O que não deve ser feito
Se você não recebeu o treinamento adequado, não tente fazer
manobras como respiração boca a boca ou compressão do tórax. "Tudo isso
tem aplicação se feito por alguém que conhece as técnicas. Caso
contrário, a pessoa só perderá tempo de pedir ajuda", diz Helito.
4. Queimaduras
Elas podem ser causadas por fogo, líquidos ou comidas
quentes e até pela eletricidade. Nos dois primeiros casos, a melhor
forma de prevenir é manter a criança longe de locais como a cozinha,
onde a maior parte desses acidentes acontece. Outra medida é evitar o
uso de produtos inflamáveis, como o álcool.
Em relação à queimadura elétrica, a prevenção pode ser
feita, por exemplo, substituindo fiações desencapadas, protegendo as
tomadas e não permitindo que os pequenos manuseiem eletrodomésticos,
como secadores de cabelo.
O que fazer na hora do acidente
Na queimadura com fogo, a orientação é rolar a criança no
chão para tentar apagar as chamas e, assim que estiver controlado, lavar
com água e levar para o hospital. No caso da queimadura por
escaldamento, enquanto busca a ajuda de um profissional da saúde, lave a
área com bastante água corrente.
Já em quadros de queimadura elétrica, a situação é mais
delicada. "A corrente percorre uma área maior do corpo da criança e pode
acometer, inclusive, órgãos internos", adverte Alberto Helito. Por
isso, o primeiro passo é desligar o interruptor da chave e, depois,
afastar a vítima da corrente elétrica. "O ideal é não encostar nela,
porque você pode levar um choque também. Faça isso com algum material
isolante, como um cabo de vassoura", informa a pediatra da SBP. Em
seguida, chame socorro e certifique-se de que a criança está respirando
- se não estiver, inicie as manobras de ressuscitação ou procure alguém
que esteja apto a fazê-las.
O que não deve ser feito
Demorar a pedir ajuda ou utilizar técnicas caseiras, como
aplicar pasta de dente, café ou manteiga na área queimada. "Nada disso é
útil", afirma o pediatra do Instituto da Criança. O tratamento deve ser
feito somente por um especialista, com o conhecimento e a higiene
necessária.
5. Intoxicação
Não raro, os pequenos se dedicam a explorar novos
territórios na casa e, ao se depararem com objetos nunca antes
identificados, os colocam na boca sem pensar. De acordo com a PROTESTE
Associação de Consumidores, as intoxicações costumam acontecer nos
horários que antecedem as refeições e quando a rotina familiar é
alterada, ou seja, durante as férias ou em mudanças. Entre os principais
vilões estão remédios, produtos de limpeza e de higiene pessoal e até
certas plantas.
Para prevenir esses acidentes, a PROTESTE sugere, por
exemplo, guardar esses produtos fora da vista e do alcance das crianças;
mantê-los em suas embalagens originais, e não em garrafas de
refrigerante ou copos; e dar preferência a embalagens com tampas de
segurança, mais difíceis de serem abertas.
"Quanto aos medicamentos, eu sempre oriento os pais a não se
referirem aos comprimidos como balas, porque a criança entende que pode
tomar quando quiser", avisa Alberto Helito. Outra dica é não tomar
remédio na frente da meninada.
O que fazer na hora do acidente
A primeira coisa que deve ser feita é ligar para o Centro de
Controle de Intoxicação mais próximo de onde você estiver e descrever o
que foi ingerido, em que quantidade e o horário em que isso aconteceu.
Enquanto a ajuda não chega, evite que o pequeno pule ou fique muito
agitado. "A criança de pé favorece que esse tóxico desça mais rápido",
explica o pediatra.
O que não deve ser feito
Se a criança tiver engolido um remédio ou um produto, não dê
água, leite ou qualquer outro líquido, pois isso vai fazer com que a
substância tóxica seja absorvida mais rápido. O mesmo vale para o
vômito: nesses casos, nunca estimule a criança a colocar o que ingeriu
para fora. Além disso, não deixe o pequeno sozinho.
6. Cortes
Eles podem ser causados tanto por objetos cortantes quando
por uma queda, por exemplo. Por isso, mantenha facas, canivetes e
tesouras longe da garotada. E, claro, esteja sempre por perto.
O que fazer na hora do acidente
Cortes de pequena proporção devem ser lavados com água e
sabão. "Isso é importante para desintoxicar a ferida e remover bactérias
que podem entrar ali", explica Alberto Helito. Se houver sangramento,
pressione a área o máximo que puder e procure atendimento médico o mais
rápido possível.
O que não deve ser feito
Não passe remédio dentro do machucado ou outros produtos, como álcool. Isso só deve ser feito com indicação médica.
7. Mordidas de animais
Eles fazem um bem dano para os pequenos, mas é preciso ter
certo cuidado. "Os animais têm alguns micro-organismos na boca que podem
causar infecções específicas", informa o pediatra do Instituto da
Criança. É importante que cães e gatos estejam sempre vacinados. Além
disso, quando a bicharada estiver perto do pequeno, esteja sempre de
olho. "O melhor é evitar o contato muito próximo até que o bebê complete
3 meses de vida", prescreve Helito.
O que fazer na hora do acidente
Lave o local com água e sabão e procure atendimento médico. Se possível, observe o animal para ver se ele não tem alguma doença.
O que não deve ser feito
Não passe produtos por conta própria. A esterilização e o tratamento devem ser feitos sob a orientação de um especialista.
Fonte: Revista saúde