quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

WH Brasil adverte: você pode ser uma viciada em café

CaféQuem nunca tomou um cafezinho para dar uma sacudida no começo da manhã, para se manter acordada ou para ficar mais concentrada?
Os números revelam que no Brasil ele reina. O estudo mais recente da Associação Brasileira da Indústria do Café revela que o brasileiro toma em média 80 litros da bebida ao ano. Mas, ao levar em consideração que muitos outros alimentos e até medicamentos contêm cafeína em sua composição, o consumo da substância sobe expressivamente.
Hoje é possível encontrar cafeína nas mais diversas variações de café, em chás, em bebidas energéticas e à base de cola, em suplementos e até em analgésicos e inibidores de apetite. Quem acha que está escapando da substância ao consumir a versão descafeinada se engana. Uma xícara de 50 ml tem de 0,45 a 0,90 mg de cafeína. Tudo bem, a quantidade é muito menor se comparada à versão tradicional (um expresso tem 50 mg), mas não é zero. Médicos explicam que é impossível retirar toda a cafeína do grão.
Muita gente nem imagina, mas chocolate, balas, gomas de mascar e outros alimentos também podem conter a substância. Nos EUA, a adição da cafeína em alimentos é alvo de investigação da Food and Drug Administration (FDA) desde o ano passado. O órgão manifestou preocupação após empresas incluírem a substância em guloseimas que podem ser atrativas a crianças e adolescentes, como chiclete e marshmallow. Na terra do tio Sam, é possível encontrar também sementes de girassol, aveia e até waffles turbinados com ela. As empresas que comercializam esses alimentos destacam nas propagandas que uma porção tem mais cafeína do que uma xícara de café. "Numa sociedade como a nossa, em que todos parecem ter a sensação de que um dia não basta, esse estimulante surge como a droga lícita mais eficaz. É como se baldes de cafezinho pudessem prolongar o dia útil em algumas horas", avalia o nutricionista esportivo Rodolfo Peres, de Londrina (PR).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não informa a quantidade de cafeína que uma pessoa pode ingerir, alegando que as evidências científicas não permitem estabelecer tal referência. Mas avaliações de outros países afirmam que o parâmetro seguro fica entre 300 e 400 mg por dia. Quanto você precisaria ingerir de café para atingir esse limite? O médico Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, responde: de quatro a seis xícaras de café de 50 ml. Lembrando que a quantidade de cafeína depende do tipo e do tamanho da xícara de café utilizada.

Meu bem, meu mal

A nutricionista gaúcha Tatiana Galdino, mestre em gerontologia biomédica, explica que a cafeína, por ser um estimulante, atua sobre o sistema nervoso central, favorecendo o estado de alerta e a concentração, além de melhorar o humor e a memória. A capacidade para a prática de atividade física também é influenciada pelo consumo dela, que, além de diminuir a fadiga durante os exercícios, auxilia no processo de redução de gordura corporal.
O maior problema, aponta a nutricionista esportiva catarinense Thayse Stapassoli, especialista em nutrição ortomolecular, é que a cafeína também pode ser encontrada em refrigerantes, chocolates, sobremesas e doces. "O conteúdo calórico desses alimentos e bebidas supera o pouco efeito da substância na perda de peso. Além disso, se aquela xícara de café ou chá vem acompanhada de chantilly e biscoitos, as calorias se superam e os efeitos positivos - como acelerar o metabolismo - acabam sendo eliminados."
Após a ingestão, o caminho da cafeína no organismo é bastante rápido. Ela demora somente alguns minutos para ser absorvida pelo estômago e pelo intestino. Depois, cai na corrente sanguínea e chega ao mesmo tempo a todos os órgãos. Seus efeitos podem ser sentidos em cerca de 20 minutos, atingem o pico uma hora e meia após a ingestão e, depois de cerca de quatro horas, praticamente não existe mais nenhum efeito, quando é metabolizada e eliminada pelos rins.

Pretinho Básico

amenic181/ThinkStock/Getty Images 
É praticamente impossível falar sobre a cafeína sem mencionar o café, considera Tatiana. Alguns estudos demonstram vários benefícios dele para a saúde. Dados epidemiológicos apoiam a visão de que o consumo ocasiona menor risco de doenças como Parkinson e Alzheimer, um efeito favorável sobre a função hepática (minimizando o risco de desenvolver esteatose hepática, conhecida como "fígado gorduroso"), um possível papel na perda de peso (em função da atividade termogênica) e uma diminuição do risco de desenvolver certos tipos de câncer (endométrio, próstata, colorretal e fígado).
Estudos ainda mostram que o consumo de café tem uma associação significativa com a diminuição do risco de diabetes tipo 2. A ingestão da bebida também foi inversamente associada com a mortalidade, com o menor risco naqueles que consomem de duas a quatro xícaras por dia. O médico Luiz Antonio Machado César, do Instituto do Coração (InCor), de São Paulo, cita um estudo americano que associa o consumo do café à menor chance de derrame cerebral.
Entre adultos saudáveis, a moderada utilização de uma dose diária de 300 mg não esteve ligada a efeitos adversos. Mas outras análises mostraram que a cafeína, quando utilizada isoladamente, promove uma piora na tolerância à glicose.

Aliada de atletas

O educador físico André Lopes, do Rio Grande do Sul, lembra que o uso de cafeína em atividades esportivas hoje é permitido, mas já foi proibido pelo Comitê Olímpico Internacional, sendo considerado doping. Ele ressalta que a substância tem sido sugerida como um recurso bastante interessante no processo de desempenho de atletas. "Na dose apropriada, ela pode ser uma aliada para elevar a performance e fazer o metabolismo acelerar, utilizando assim mais energia no momento do exercício", observa a nutricionista Danielle Milhão, de Porto Alegre, especialista em nutrição atlética e alto rendimento. Se o objetivo for aumentar a massa muscular, o uso antes da academia também pode auxiliar na evolução no treino de hipertrofia por facilitar a contração muscular. Em atividades físicas que requerem muita concentração (luta, musculação), deve-se ter bastante cautela com a dosagem, pois em excesso pode causar uma agitação excessiva e atrapalhar a qualidade do exercício.
Tatiana acrescenta que a substância altera os níveis de neurotransmissores no cérebro, bloqueando químicas que levariam a atleta ao cansaço mais rapidamente, conferindo uma sensação de alerta permanente. Além disso, os benefícios fisiológicos também podem estar relacionados ao fato de a cafeína estimular a liberação de gordura na corrente sanguínea. Pode ser que o aumento do nível de ácidos graxos no sangue permita que os músculos usem a gordura como combustível e poupem o glicogênio (fonte de carboidrato do organismo), o que facilita o exercício.
Mas o nutricionista Rodolfo Peres recomenda o uso moderado de cafeína, principalmente antes da prática de atividade física. "Observo pessoas usando cafeína para compensar uma noite maldormida. Isso pode trazer a fadiga muscular, pois o estado de alerta que atua no sistema nervoso central não compensa a falta de recuperação gerada pelo descanso."

Entenda os Riscos

Experts também alertam: a cafeína é uma droga que pode causar dependência física e psicológica, uma vez que estimula o cérebro a utilizar os mesmos mecanismos de anfetaminas, cocaína e heroína. "Os efeitos dela obviamente são mais leves. É por isso que algumas pessoas que consomem regularmente café, quando não tomam sua dose diária, tendem a ficar mais irritadas, ansiosas e com dor de cabeça", diz Tatiana.
Todo mundo deve conhecer uma pessoa que relatou ter consumido cafeína durante a noite e teve dificuldades para dormir. Qual a razão para que isso ocorra? A neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono de São Paulo, explica que ela pode aumentar o número de microdespertares que normalmente ocorrem durante o sono. Ela inibe a substância adenosina, que, ao se acumular durante o dia, proporciona proteção ao sono. E, quando é bloqueada, tende a aumentar a vigília. A cafeína pode alterar os estágios do sono na primeira parte da noite, e ele não será tão tranquilo.
Estudos mostram que, além de deixar a pessoa mais alerta, a substância provoca taquicardia, o que tende a levar a uma dificuldade para adormecer. Mas os problemas para quem sofre de insônia podem ser ainda maiores, como esquecimento, aumento de pressão e outros problemas cardíacos.
Para a nutricionista gaúcha Ana Carolina Bragança, mestre em gastroenterologia e hepatologia, os alimentos ricos em cafeína devem ser ingeridos durante o período diurno. A partir das 16 horas, o cérebro começa lentamente a diminuir sua atividade. Se o consumo for após esse horário, há chances de problemas para dormir. Mas nem todo mundo tem tendência à insônia - algumas pessoas são mais suscetíveis a alertas.
Por outro lado, relata Dalva, se alguém tem uma dependência a essa substância, pode ter dificuldades para dormir se não consumi-la.
É muito comum observar pessoas usando cafeína após uma noite maldormida. Porém Danielle observa que esse estimulante apenas mascara o cansaço. Se o problema for a falta desono, ele ajuda a passar bem o dia, mas os distúrbios hormonais que a privação de uma noite bem dormida pode acarretar, nenhum estimulante soluciona.
O médico Darcy Lima, que pesquisa os efeitos do café na saúde humana há mais de duas décadas, orienta que pessoas com qualquer doença gástrica ou cardiovascular e transtornos de ansiedade não usem cafeína. Mulheres gestantes ou que estejam amamentando também devem evitá-la.
A nutricionista Rita Cherutti, de Porto Alegre, alerta que a substância em excesso pode trazer malefícios como qualquer outro composto químico, como irritabilidade, agitação, ansiedade, dor de cabeça, problemas estomacais, palpitações, arritmias cardíacas, diarreia, desidratação e vômito. Nas dosagens tóxicas, pode causar até a morte. Por isso, a ordem é: consuma com moderação.

Cafeína e medicamentos

Há no mercado medicamentos com cafeína na composição, principalmente contra dor de cabeça e gripe. Segundo a farmacologista Patrícia Medeiros, da Universidade de Brasília (UnB), a substância age como analgésico.
Além das pessoas com problemas de pressão alta, que devem evitar a cafeína, quem tem asma e toma broncodilatadores, que aumentam o sistema de alerta, deve manter distância de remédios com essa substância para que não haja um estímulo ainda maior. O mesmo ocorre a quem faz tratamento para cólicas (com medicamentos da família da escopolamina). A mistura é capaz de fazer o coração bater mais rápido e estimular o cérebro. Todos os produtos para emagrecimento também aumentam o batimento cardíaco. Por isso, deve-se evitar a associação com cafeína.
Pessoas em tratamento para pneumonia e infecção urinária com quinolona não devem ingerir cafeína nem na forma de alimento, alerta Dalva Poyares.
Ao fazer uso do remédio com café, por exemplo, é como se a quantidade consumida fosse multiplicada. Entre os sintomas estão agitação e taquicardia.

Cafeína com moderação

A nutricionista Tatiana Galdino dá um exemplo de como consumir cafeína com moderação. Vale lembrar que para os cálculos foram adotados os menores valores (em mg) encontrados em cada porção dos alimentos abaixo.
1. Café da manhã
Café coado: 1 xícara de 100 ml (40,5 mg de cafeína)
2. Almoço
Ice Tea (chá gelado): 1 copo de 300 ml (23 mg de cafeína)
Café expresso: 1 cafezinho de 30 ml (50 mg de cafeína)
3. Lanche da tarde
Cappuccino (com um shot de expresso): 1 taça média de 150 ml (50 mg de cafeína)
Total: 301,5 mg de cafeína 

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